quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A Cidade Branca (Dans la Ville Blanche) 1983



Um marinheiro suiço (Bruno Ganz) chega a Lisboa, cansado da barulhenta casa de máquinas do navio onde trabalha. Aluga um quarto numa pensão, e escreve cartas para a sua namorada, descrevendo a brancura da cidade, a solidão e o silêncio. Envia-lhe filmes com a sua câmera de 8mm, e é então que conhece Rosa, empregada na pensão onde está a viver, e com quem se envolve. Ele continua a enviar cartas e filmes caseiros, mas a sua namorada está magoada  e com raiva, e lança-lhe um ultimatum...
O suíço Alain Tanner, conseguiu com este filme alcançar o que não conseguiu com mais nenhum. Hipnótico, poético e bastante convincente, é uma obra inigualável da desorientação emocional. Trabalhado num estilo que parece reminiscente da obra do italiano Michelangelo Antonioni, evidente na magnífica abertura do filme, com um navio a chegar a um porto português, usa estruturas físicas e linhas geométricas  que sugerem e simbolizam a intersecção da natureza da vida, que é a espinha dorsal da narrativa elíptica do filme.
O argumento de Tanner narra a tentativa de um marinheiro tentar escapar da sua vida monótona, para um sítio desconhecido. Tanner fá-lo através de uma dupla aproximação, feita tanto através do diálogo - via as longas cartas que o protagonista escreve para a namorada - e a parte inteiramente visual, capturando shots de sonho com uma câmera de 8 mm. Esta arte de usar um filme dentro de um filme, altera as concepções típicas de tempo e espaço, acrescentando ao vazio qualidade onírica da história. Mostrados ao público (e à namorada) sem benefícios narrativos, estes filmes caseiros permitem ao público um pico no processo do pensamento, de forma a que, apenas as palavras nunca seriam suficientes.
Cena após cena, shot após shot, são compostos de modo a que um exercício multidimensional possa ser melhor compreendido. As ruas de Lisboa são mais bem filmadas do que nunca, e ainda há a acrescentar um elenco recheado de actores portugueses: Teresa Madruga, José Carvalho, Francisco Baião, José Wallenstein, Lídia Franco, Joana Vicente, entre outros.

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