quinta-feira, 30 de outubro de 2014

House (Hausu) 1977



Oshare está excitada em passar as férias do Verão com pai, até descobrir que a sua bela e estranha namorada também vai. E assim prefere antes ir para a casa da tia, no campo, e leva com ela as suas colegas da escola: Fanta (que gosta de tirar fotos e sonha muito), KunFuu (que tem muito bons reflexos), Gari/Prof (que é uma grande nerd), Sweet (que gosta de limpezas), Mac (que come muito), Melody (que faz musica).As jovens não sabem que a tia de Oshare está na realidade morta, e que a casa é assombrada. Quando chegam a esta casa estranhos eventos começam a acontecer, e as jovens começam a desaparecer uma a uma, à medida que vão descobrindo o segredo por detrás de toda esta loucura.
Para apreciarmos verdadeiramente este bizarro trabalho experimental de Nobuhiko Obayashi temos de saber que fronteiras é que ele derrubou no cinema japonês da altura. Os lendários Toho Studios, que, como os outros grandes estúdios japoneses, estavam num período de transição económica e de muitas incertezas, tinha comprado os direitos do filme dois anos antes, na esperança de poder criar um blockbuster do cinema japonês, mas permaneceu no limbo porque não conseguiam encontrar um realizador à altura para o realizar. Entretanto apareceu Obayashi, que foi apresentando uma série de produtos relacionados com o filme (uma banda sonora, um livro, histórias aos quadradinhos, e uma adaptação para a rádio), para alimentar o desejo público e fazer pressão sobre o estúdio.
Obayashi foi convidado a realizar o filme, apesar de nunca ter realizado um filme de ficção antes (a sua experiência vinha de curtas-metragens experimentais, e de comerciais da televisão, que ele tinha feito ás centenas na década de 70, inclusive alguns com Charles Bronson), e assim que lhe foram entregue as rédeas nunca mais olhou para trás. Ao contrário de outros jovens realizadores, ele foi contra a corrente, recusando-se a seguir os passos de mestres como Akira Kurosawa ou Yasojiro Ozu. A sua abordagem era perguntar-se a si próprio o que estes realizadores iriam fazer, e depois fazer ao contrário, o que o tornava ainda mais radical do que os realizadores da nova vaga japonesa que tinham aparecido na década de sessenta. A aproximação não convencional de Obayashi estende-se tanto à parte visual do filme, um estilo muito artificial, como à banda sonora, da autoria do grupo pop Godiego. Ainda teve a ousadia de dar um nome inglês ao filme, algo que nunca tinha sido feito no cinema japonês.
Obayashi teve o benefício de trabalhar num periodo de muita agitação na indústria de cinema japonesa, onde um grande fluxo de jovens cineastas pretendia mudar o rumo do cinema, no país. Mesmo deste ponto de vista, "House" é uma obra muito bizarra, e em muitos aspectos era um filme muito à frente do seu tempo, levando a narrativa a extremos. Não havia nada que Obayashi não estivesse disposta a tentar, e o resultado final é um compêndio de técnicas cinematográficas excêntricas, projectadas para chamar a nossa atenção para o artifício total, sem sacrificar o nosso envolvimento. É um filme irreverente, ousado na forma como se recusa a tomar qualquer coisa a sério, ao mesmo tempo que impressiona com a sua aura visual assombrosa. Filme de culto.

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