sábado, 28 de fevereiro de 2015

Benilde ou a Virgem Mãe (Benilde ou a Virgem Mãe) 1975



No Alentejo, numa grande casa isolada, suspeita-se que a filha dos proprietários, Benilde, está grávida. O médico, chamado em segredo pela governanta, Genoveva, confirma o seu estado de gravidez. Mas Benilde jura que não conheceu homem algum, e que se está à espera de um filho é por vontade de um Anjo de Deus.
Um vagabundo circunda a casa, com uivos tremendos, sem nunca ser visto. A convicção de Benilde da intervenção divina, perturba todos à sua volta, particularmente a sua tia que procura explicações mais razoáveis. Benilde anuncia a Eduardo, seu noivo, destruído pelos factos, que vai morrer em breve. Na hora da morte diz-lhe que em breve se encontrarão.
"Segundo painel da "tetralogia dos amores frustrados", "Benilde" contrasta com "O Passado e o Presente" pela estática teatralidade com que é filmado, em respeito total ao texto.
Do único décor - a casa de Benilde - , Oliveira só sai duas vezes: no início, quando um fulgurante travelling atravessa o espaço imenso e vazio do estúdio de cinema até entrar por um quadro (paisagem do Alentejo) na cozinha-estúdio do primeiro acto da peça. No final, quando, após a morte de Benilde, a câmara se eleva e regressa ao estúdio vazio por um buraco existente no tecto. É o cinema que invade o teatro, num jogo de alçapões e sótãos, como se sob a profundidade do primeiro se escondese o espaço do segundo. E é dos subterrâneos do cinema que emerge essa história erótica e mística em que é legítimo ver-se também a parábola do país perdido que fomos e somos e a impossibilidade de rapidamente o transformar.
Na sua única alteração à peça, Oliveira fez abrir as janelas e entrear o vento na cena capital em que uma tia de Benilde a acusa de hipocrisia e mentira. O vento varre a sala e decompõe a personagem que a custo volta a fechar a janela. "Benilde" é esse espaço fechado que não se deixa varrer, é essa claustrofobia onde o ar não chega, é esse mundo que só existe enquanto clausura. É um filme de "estado de sítio". De tudo o que se passou em Portugal, entre a tacanha paz de Salazar e a espúria agitação de 75, talvez seja, por muitos ínvios caminhos, o mais profundo retrato."
 João Bénard da Costa, in Histórias do Cinema, col. Sínteses da Cultura Portuguesa, Europália 91, ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1991.

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