domingo, 15 de março de 2015

Cairo Station (Bab el Hadid) 1958



"Cairo Station" passa-se numa estação de comboios, no curso de um único dia. A câmera apresenta-nos os três personagens principais: Qinawi (Youssef Chahine), que é o pobre e pervertido vendedor de jornais, Hanuma (Hind Rostom), a bela mulher constantemente perseguida pela segurança por vender bebidas de forma ilegal, e Abu Serib (Faris Shawqi) que pretende casar-se com Hanuma. Qinawi passa os dias a fantasiar sobre as mulheres. Pin ups de modelos compõem as paredes do seu pequeno quarto sujo, onde ele passa o tempo olhando para as fotos com os seus penetrantes olhos negros. Enquanto no trabalho não se aplica muito, lá vai continuando o seu hábito em relação ás mulheres. Como um predador sexual, mulheres e sexo é tudo o que lhe interessa. É um indivíduo doente e perturbado que raramente pronuncia uma palavra. Toda a gente conhece Qinawi, mas ninguém sabe da sua doença, a não ser a plateia. Não demora para que Hanuma comece a chamar a atenção de Qinawi, que começa a ficar obcecado por ela, mas ela já é comprometida...
O personagem principal é um pervertido, com tanto de desagradável como de perturbador. E depressa o argumento nos leva outros lugares, como um crime, violência e caos. O desempenho assombroso de Chahine no papel de Qinawi é tão poderoso como a sua realização tem de inovadora. É ele quem está no controle total do filme atrás e à frente das câmeras, levando-nos à mente de um homem sexualmente reprimido caminhando para a insanidade. Os sujos e feios exteriores contribuem para o realismo obscuro do filme.
O neo-realismo italiano influenciou o grande realizador egípcio que se atreveu a forçar o público a lidar com a realidade. Antes de "Cairo Station" os filmes egípcios tinham todos muito bom aspecto, simplesmente para entreter. O cinema era um escape para o dia a dia do homem comum, até que o público ficou chocado com este filme. Aparecia um jovem realizador a julgar uma cultura inteira com uma obra que quebrava todas as regras do cinema egípcio. A censura proibiu o filme a pedido do público. Os críticos elogiaram-no como uma obra-prima, mas o público desprezava-o.
Conta-se que depois do filme ter sido exibido, um homem aproximou-se de Chahine, cuspindo-lhe na cara, e disse: "Tu deste ao Egito uma imagem desoladora." Depois de 20 anos sob uma estrita proibição, os egípcios redescobriram-no. Foi exibido em festivais de cinema por todo o mundo e, desde o renascimento como "Cairo Station", em 1978, os egípcios reconheceram-no como o trabalho de um mestre. A reputação do filme foi crescendo e agora é considerado o "Citizen Kane" do cinema egípcio.
 Legendado em inglês.

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