sábado, 24 de setembro de 2016

Play it Again, Nicholas Ray

Um homem em chamas corre directamente para a câmara. Uma jovem de 16 anos, despida até à cintura, é chicoteada por 3 adolescentes. Dois carros carregados com jovens fazem uma corrida um contra o outro num túnel escuro. Nenhum destes sketches da história original de Nicholas Ray foi incluído em  "Rebel Without a Cause" (1955), graças ao bastante modificado argumento, mas por aqui ficamos com uma idéia do que Ray andava à procura: caos, perigo e transgressão.
Dois anos antes, nos Cahiers du Cinema, Jacques Rivette escrevia que Ray tinha um gosto pelo paroxismo, que lhe transmitia algo de febril e impermanente, nos momentos mais tranquilos. Esta corrente de agitação existencial capturou a imaginação dos jovens "auteurs" dos Cahiers, para quem Ray se tornou um objecto de veneração. "O Cinema é Nicholas Ray", declarava Jean-Luc Godard, e François Truffaut, Rohmer e Rivette concordaram, ele era um poeta outsider do pós-guerra, violento e solitário, caminhando por todo o tipo de terrenos: westerns, noirs, thrillers, melodramas, filmes de guerra, sempre com a sua marca pessoal. A saber: complexidade psicológica, inteligência visual e um fatalismo romântico, que acompanharam sempre grande parte da sua carreira. Ray podia pegar num filme de pequeno orçamento da Republic, como "Johnny Guitar", e filmá-lo com Freud, tragédia grega e Joe McCarthy, e acabá-lo como se fosse um "camp classic", ao contrário de tudo o resto no género.
"They Live by Night", "Born to be Bad", "On Dangerous Ground", Rebel Without a Cause", "Hot Blood", "Bigger than Life", "Bitter Victory", "Wind Across the Everglades", "The Savage Innocents". Não precisamos de ver todos estes filmes para apreciar a poesia em Nicholas Ray. Como os condenados mas intensos romances que se pode encontrar nos filmes, a sua carreira foi curta mas apaixonante, cerca de 20 filmes em 15 anos, muitos deles verdadeiras obras primas. Em 1963 ele estava farto de Hollywood, e graças à sua autêntica força criativa continuou a dar aulas e a escrever, colaborando com os seus alunos para fazer "We Can´t Go Home Again" (mais um filme poético).
Sendo assim, nas próximas semanas vamos visitar toda a sua carreira, desde o inicio com o série B "They Live By Night", até ao opus final. Podem começar a ver os filmes a partir de segunda-feira.
Bom fim de semana.


Sem comentários: