terça-feira, 18 de outubro de 2016

Atrás do Espelho (Bigger than Life) 1956

Ed Avery (James Mason) é um professor e homem de família que tem vindo a sofrer de dores agudas, e até mesmo desmaios, a quem é diagnosticada uma inflamação rara nas artérias. Informado pelo médico que provavelmente tem apenas meses de vida, Ed concorda fazer um tratamento experimental, que consiste em levar doses de cortisona. Faz uma recuperação notável, e regressa para casa para junto da sua mulher, e filho. Mas ele tem de continuar a tomar os comprimidos de cortisona, para evitar que a inflamação volte. Mas a cura milagrosa torna-se um pesadelo, quando Ed começa a abusar dos comprimidos, causando-lhe mudanças de humor cada vez mais selvagens...
De todos os grandes filmes de Nicholas Ray nenhum teve uma carga dramática tão intensa, nem tão visceralmente chocante como "Bigger than Life". Um thriller de suspense disfarçado de melodrama Sirkiano com tons de terror gótico, serve tanto como um aviso para os tempos de progresso da medicina, em particular o uso de drogas não testadas, tanto como comentário negativo ao "american way of life". O filme era inspirado num caso verdadeiro, denunciado por Berton Roueché (Ten Feet Tall) numa edição de 1955 do New Yorker, e tornou-se no projecto de estimação de James Mason, que co-escreveu o argumento, produziu e ainda interpretou, naquele que deve ter sido o papel mais desafiante da sua carreira. Por causa do seu tema altamente controverso "Bigger Than Life" acabou por ser um flop nas bilheteiras, mas transformou-se num sucesso noutros quadrantes (Jean-Luc Godard classificou-o como um dos 10 melhores filmes feitos até então) e hoje é considerado um dos melhores filmes do realizador. É uma espécie de film noir mais pessimista do que qualquer outro noir que Ray tinha feito, incluindo "In a Lonely Place" (1950).
Apesar do filme começar como um melodrama convencional de Hollywood dos anos 50, com o seu retrato acolhedor de uma família moderna a gozar dos confortos de uma sociedade consumidora, as suas motivações obscuras podem facilmente ser perceptíveis nos primeiros sinais de um crescente cancro que ameaça tornar-se em algo bastante preocupante. O protagonista tem uma certa ambiguidade em relação à doença, primeiro pela facilidade com que ele informa a mulher que tem um segundo trabalho, e depressa o seu casamento se torna menos seguro do que ele esperava, com suspeições de infidelidade a surgirem na vida do casal. Estas são as pequenas sementes da dúvida que vão explodir numa escalante crise à medida que o drama lentamente vai revelando uma transformação no comportamento de Ed. 
Mason já era bastante conhecido por interpretar papéis de personagens sádicas e mal ajustadas, como em "The Man in Grey" (1943) ou "The Upterned Glass" (1947), mas aqui está particularmente ameaçador. É um prazer vê-lo transforma-se de um homem de boa natureza num potencial homicida maniaco, numa grande experiência de cinema.

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