quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Falta um dos Nossos Aviões (One of Our Aircraft Is Missing) 1942

One of Our Aircraft Is Missing é a quarta colaboração entre Michael Powell e Emeric Pressburger, a primeira para a nova produtora Archers, onde a dupla poderia ter um maior controlo criativo sobre a sua própria obra. 
O filme é visto como uma arma de propaganda feita para elevar a moral das tropas britânicas envolvidas na Segunda Guerra Mundial e, simultaneamente, um apelo à população para que se mantivesse unida em torno do objectivo de derrotar a Alemanha nazi. Apesar da ligação estreita ao próprio Ministério da Informação, de forma alguma One of Our Aircraft Is Missing pode ser menorizado. Muitos cineastas dos dois lados do Atlântico, envolveram-se directamente na propaganda de guerra, alguns até muito mais reputados do que Powell e Pressburger, como foi o caso de Frank Capra. Sendo um filme de guerra, não é um filme de guerra qualquer. É, provavelmente, o melhor filme da dupla, até à altura e uma obra prima do género. Curiosamente quase não tem tiros nem mortes, excepto nas partes inicial e final. Isto significa que a aposta é nos aspectos usualmente menos relevados da guerra, a tensão psicológica, o medo e a resistência civil à ocupação. O argumento inverte a situação do filme anterior, 49th Paralell. Aqui não são soldados alemães que ficam retidos em território inimigo, sem grandes hipóteses de escaparem. Num raid aéreo sobre a Alemanha, um dos aviões britânicos é atingido e acaba por se despenhar na Holanda, então ocupada pelos nazis. Os seis tripulantes ejectam-se em pára-quedas e procuram sobreviver em território hostil. Embora o filme seja centrado nas estratégias dos seis militares britânicos, os verdadeiros protagonistas do filme, são os anónimos cidadãos holandeses que conscientemente arriscam a vida para os enviar de volta para o seu país. Salvar os militares é uma forma de resistir ao inimigo invasor, embora saibam que, caso sejam denunciados, serão mortos por traição. Aliás o filme é dedicado a estes anónimos cidadãos holandeses que perderam a vida para que o seu regresso fosse possível. Vista nesta perspectiva, todos os tiroteios, ou espectaculares cenas de guerra são absolutamente supérfluos. Sabemos que as coisas não se passaram realmente assim. Em todos os lugares houve sempre gente a colaborar com o inimigo, alguns por convicção ideológica, a maioria por pura conveniência. Mas, e nisso é que sente mais o carácter propagandístico do filme, aqui parece haver um sentido de unidade entre todos os holandeses. De resto, One of Our Aircraft Is Missing, é um monumento à sobriedade. Não há histórias de amor cruzadas, nem paixões mais ou menos platónicas entre ingleses e holandeses. Ao contrário de muito filmes dessa e de todas as épocas, não há nenhuma espécie de inglês universal que todos falam, sejam eles índios, russos ou chineses. Os holandeses falam holandês, excepto aqueles que dominam a língua inglesa e o mesmo se passa com os alemães. 
Apesar da sobriedade, algumas das cenas, designadamente as finais, são filmadas de forma virtuosa e dispondo de todos os recursos tecnológicos da época (com alguns adiamentos no produto final, para nele serem incorporadas as mais recentes inovações da tecnologia militar) o que valeu nomeação do filme para os Óscares da melhor fotografia e dos melhores efeitos especiais, assim como do melhor argumento, embora não tivesse ganho nenhum. O filme não tem nenhuma banda sonora, uma vez que os realizadores consideraram que a mesma contribuiria para desviar a atenção dos seus aspectos centrais. E, verdadeiramente, não precisa. 
* Texto de Jorge Saraiva

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